Se tem um animal de estimação, sabe que manter uma “conversa” com ele é praticamente inevitável. Quer seja para comentar o tempo enquanto põe a trela no cão, para partilhar as peripécias do dia com o gato enquanto ele ignora majestaticamente, ou até para discutir onde foi parar aquela meia desaparecida – falar com eles faz parte da rotina.
Para quem assiste de fora, pode parecer um pequeno sinal de loucura. Mas, para quem vive na companhia de um peludo, sabe que estas interacções são naturais e profundamente gratificantes. Mais do que isso, estudos mostram que este hábito tem benefícios tanto para nós como para os nossos amigos de quatro patas. Vamos explorar este “diálogo” peculiar e descobrir porque é que, afinal, deveríamos mesmo falar com os nossos animais.
Eles não respondem, mas percebem mais do que pensa
Se está à espera de uma resposta verbal do seu gato ou cão, bem… não conte com isso. No entanto, o silêncio deles não significa desinteresse. Pelo contrário, estudos mostram que os cães, por exemplo, são capazes de reconhecer mais de 160 palavras, além de tons de voz e até emoções transmitidas pela nossa linguagem corporal.
Já reparou que o seu cão abana a cauda quando lhe diz, num tom animado, “Vamos passear”? Ou que o gato levanta as orelhas quando lhe pergunta onde está o saco das guloseimas? Eles podem não ter um dicionário, mas têm uma capacidade surpreendente de compreender o essencial – e é isso que torna a conversa tão especial.
O treinador de cães, Joel Ponte, ensina-lhe mais sobre comportamento canino, aqui!
Falar com eles faz bem… a todos!
Ao falar com o seu animal, não está apenas a entretê-lo. Está a criar laços, a mostrar atenção e a reforçar a sensação de segurança e amor que ele sente consigo. E, se isso não fosse já motivo suficiente, a verdade é que conversar com os nossos animais de estimação também tem um impacto positivo em nós.
Quem nunca se viu a desabafar com o cão depois de um dia complicado ou a perguntar ao gato se deveria aceitar aquela proposta de trabalho? Claro que eles não dão conselhos (ou pelo menos não com palavras), mas o simples acto de verbalizar os pensamentos ajuda-nos a organizar ideias e a aliviar emoções. É como uma mini-terapia com um ouvinte que não julga – e que, no final, até lhe oferece um olhar compreensivo ou um ronronar de apoio.
Mas eles entendem mesmo?
Sim e não. Os cães, em particular, são exímios a ler os nossos gestos e emoções. Mais de 80% da nossa comunicação é não-verbal, e eles percebem muito bem o que queremos dizer apenas pela nossa postura ou expressão facial.
Por outro lado, se espera que o gato compreenda frases longas e cheias de nuances, boa sorte. Um estudo publicado na Proceedings of the Royal Society sugere que os animais reagem melhor a palavras curtas, frases simples e, no caso dos cães, tons de voz mais agudos e animados. Portanto, talvez seja hora de simplificar a mensagem – ou, no caso do gato, preparar-se para ser solenemente ignorado.
Há desvantagens em falar com eles?
A única desvantagem de falar com o seu cão ou gato é o facto de eles não serem humanos. Pode parecer óbvio, mas vale a pena lembrar: por mais atentos que sejam, não conseguem sempre entender-nos. Isso não significa que deva parar – apenas que deve ajustar as expectativas.
Fale com eles, mas lembre-se de que o entendimento deles tem limites. Use palavras que já associem a ações ou objetos, como “comida”, “passeio” ou “não”. O resto, para eles, pode ser apenas música de fundo – ou, quem sabe, poesia.
No fundo, todos gostamos de uma boa conversa
Seja para animar o seu cão antes do passeio ou para partilhar confidências com o gato enquanto ele finge estar demasiado ocupado a lavar as patas, a verdade é que falar com os nossos animais cria uma conexão única.
E quem sabe? Talvez, para eles, ouvir-nos seja tão importante quanto para nós é falar. Afinal, não são só papagaios que sabem apreciar dois dedos de conversa – o seu cão ou gato também o agradece, à sua maneira!
