Já imaginou o seu cão a dizer-lhe que quer ir passear ou que está na hora de um petisco? Parece coisa de filme, mas é o que prometem os chamados botões falantes, que se tornaram famosos graças a vídeos de cães a “falar” com os donos. Contudo, será que esta tecnologia é mesmo eficaz ou é mais um truque que mexe com o coração dos donos? Vamos descobrir.
Como funcionam os botões falantes?
A ideia é simples (e, convenhamos, genial): cada botão reproduz uma palavra ou frase previamente gravada, como “comida”, “brincar” ou “saída”. Quando o cão carrega no botão certo, ouve-se a gravação. A premissa é que, com treino, o animal aprenderá a associar os sons às ações ou recompensas correspondentes.
Estes botões baseiam-se num conceito chamado comunicação aumentativa e alternativa, muito usado por pessoas que, por alguma razão, não conseguem comunicar verbalmente. Mas será que esta abordagem funciona para cães?
Cães podem aprender a comunicar?
Com treino adequado, os cães podem ser ensinados a usar botões falantes, assim como aprendem truques ou comandos básicos como “senta” ou “dá a pata”. Este processo chama-se condicionamento operante: o animal realiza uma ação (como pressionar um botão) e recebe algo que gosta, como um snack ou elogios.
Christina Hunger, uma patologista da fala, foi pioneira na utilização dos botões falantes com a sua cadela, Stella. Segundo Christina, Stella aprendeu mais de 50 palavras e era capaz de combinar botões para formar frases simples.
Mas será que isto significa que os cães compreendem verdadeiramente o que estão a dizer?
Uma questão de perspetiva
Os cães são mestres na arte de interpretar a nossa linguagem corporal e as nossas emoções. Por vezes, é mais provável que estejam a responder a pistas subtis do dono do que a entenderem as palavras propriamente ditas.
Um exemplo clássico é o do cavalo Hans, no início do século XX, que parecia saber resolver problemas matemáticos. Descobriu-se mais tarde que Hans não fazia cálculos; apenas reagia a sinais inconscientes dados pelo seu treinador.
De forma semelhante, quando os cães parecem “escolher” o botão certo ou combinam palavras, é possível que estejam a captar pistas dos donos, como movimentos ou expressões faciais.
Precisamos de mais evidências!
Estudos mais robustos são necessários para compreender até que ponto os cães conseguem usar os botões falantes como ferramenta de comunicação. Federico Rossan, da Universidade da Califórnia, está a liderar um projeto independente para estudar este fenómeno. Contudo as evidências disponíveis são maioritariamente relatos de donos entusiasmados – o que não é exatamente imparcial.
Os riscos de interpretar mal
Tratar os cães como se fossem pequenos humanos pode levar a mal-entendidos. Por exemplo, quando o cão faz algo errado, como roer os sapatos, e parece “culpado”, está apenas a reagir ao tom de voz ou à expressão zangada do dono. Estudos mostram que os cães não sentem culpa como nós, mas são excelentes a prever as nossas reações.
Portanto, se comprar botões falantes, tenha cuidado com as interpretações exageradas. Usar os botões pode ser divertido e até educativo, mas não espere conversas profundas sobre a vida com o seu patudo.
Se quer que o seu cão siga as suas ordens, o treinador de cães, Joel Ponte, tem as dicas certas para si, aqui!
Botões falantes: sim ou não?
Se tem curiosidade, tempo e um orçamento flexível (os preços variam entre 15€ e mais de 100€), os botões falantes podem ser uma forma interessante de interagir com o seu cão. Contudo, lembre-se de que a comunicação com o seu amigo peludo já acontece todos os dias – com olhares, gestos e aquele abanar de cauda que diz tudo.
Os cães não precisam de botões para mostrar que são incríveis. Mas, se decidir experimentar, encare-o como uma brincadeira. Afinal, o que importa é o tempo que passa com o seu melhor amigo – seja a pressionar botões, a passear ou a fazer festas no sofá!